A palavra “retroperspectiva”, que dá título a este artigo, não existe no vernáculo. Trata-se de neologismo criado para simbolizar, em uma só palavra, uma visão dupla, ao passado e ao futuro. É que não há como falar do futuro sem nos referirmos ao passado. E este tem sido generoso para com os negócios imobiliários. Sem se importar com as intempéries da política e da economia, o mercado imobiliário tem-se mostrado absolutamente resiliente. E não apenas no ano de 2024, mas em vários e sucessivos anos anteriores, mesmo durante a pandemia.
O ano de 2019 foi de recuperação econômica, depois do desastre recessivo ocorrido durante o governo de Dilma Rousseff. O mercado imobiliário foi o que mais brilhou. Entretanto, logo no início de 2020, quando tudo parecia correr bem, no dia 11 de março, a Organização Mundial da Saúde decretou a pandemia Global. Foi um verdadeiro caos, que derrubou as economias dos países mundo afora, inclusive a do Brasil. No primeiro momento, o mercado imobiliário também sucumbiu. Em menos de 24 horas, tudo parou. Os negócios foram à lona!
Para surpresa de todos, no entanto, o desânimo durou pouco. Corretores de Imóveis, Imobiliárias e demais players do setor imobiliário reagiram e se adaptaram imediatamente às novas modalidades negociais, via internet. Utilizando-se de ferramentas já disponíveis, mas pouco ou nada exploradas até então, como reuniões (lives) e visitas virtuais a imóveis, o mercado se transformou e superou todas as dificuldades. Na sequência, vieram as assinaturas eletrônicas, as escriturações e os registros realizados totalmente on-line, sem contato pessoal.
Proprietários, incorporadores, compradores, locadores e locatários também trataram de se adaptar. A tecnologia evoluiu rapidamente para suprir as novas demandas. O Sistema Cofeci- Creci criou o SGR, moderníssimo e eficiente processo de registro e gestão de documentos, e trabalha no software de controle da tokenização. Tudo se modernizou, tudo se transformou, e as vendas reagiram. A recuperação do mercado em 2020 foi tão rápida quanto sua abrupta queda: menos de 60 dias. O ano fechou com volume de vendas semelhante ao de 2019.
Vieram então 2021, 2022 e 2023, sempre com volumes crescentes de comercialização. Agora, ao encerrarmos 2024, ainda que sem um balanço final, podemos afirmar que os indexadores adversos, como Selic em 11,25% aa, o IGPM em 6,33%, o IPCA em 4,87 e o IVAR (variação de alugueis) em 8,75%, não foram suficientes para desmotivar o mercado. Tudo indica que as vendas cresceram em torno de 20%. Pesquisa recente da Brain Inteligência Estratégica revela que 70% dos consultados manifestaram interesse na compra de imóvel residencial.
Enfim, embora ainda haja dúvidas sobre a reforma tributária, gastos públicos e política fiscal, o mercado não arrefece. A evolução do setor diante das instabilidades reflete sua capacidade de resiliência e adaptabilidade. Vale lembrar a grande vitória das entidades representantes de vários segmentos de nosso setor, garantindo IVA de 7,95% para operações de vendas e de 13,25% para as de locação, diante do IVA geral de 26,5%. Somos fortes, destemidos e organizados: “quanto maior o obstáculo, maior a glória de vencê-lo” (Molière). Feliz ano novo!