Popularização de home equity depende ainda de mudança cultural, dizem especialistas

Concorrência com operações de crédito mais rápidas também afeta na assimilação da modalidade pelo consumidor

O home equity, modalidade de crédito que utiliza um imóvel como garantia para levantamento de capital, tem ganhado tração nos últimos anos, mas sua expansão no Brasil ainda enfrenta barreiras culturais. Essa foi a opinião consensual de representantes do setor imobiliário durante painel no primeiro dia do Conecta Imobi 2024, o principal evento para profissionais da área na América Latina, nesta quarta-feira (11).

Para Thiago Spessoto, superintendente sênior de negócios do Bradesco, muitos brasileiros ainda enxergam o endividamento como um risco elevado, o que dificulta a percepção do imóvel como um investimento. Esse fator tem contribuído para a popularização mais tímida da modalidade.

“O brasileiro tem muito medo de ficar endividado, por isso, o grande desafio ainda é a popularização. Foi apenas recentemente que o home equity quebrou a barreira de R$ 1 bilhão [em volume de valores concedidos à operação], enquanto os financiamentos feitos via SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) passaram dos R$ 15 bilhões. Então temos margem para o crescimento”, explicou o executivo.

Levantamento da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) mostra que, nos primeiros quatro meses de 2023, o valor concedido ao home equity ultrapassou mais de R$ 2,06 bilhões, uma alta de 17,3% em comparação ao anterior. Ainda assim, a concorrência com outras linhas de crédito, na visão de Spessoto, ainda representa um impacto negativo para a adesão à modalidade.

“Temos novidades no médio prazo para impulsionar o setor, mas o grande desafio é a concorrência com outras linhas de crédito mais ágeis em situações de emergência. Um home equity, por exemplo, não pode ser contratado em um ou dois dias, como acontece com o crédito consignado. Temos ainda algumas barreiras nos cartórios. Não adianta emitirmos certificados digitais e transferir o ônus para o cliente ir ao cartório”, ressaltou.

Já o head da área de crédito imobiliário do Banco Daycoval, Julio Cesar de Oliveira Rossi, acredita que há um “mar de oportunidades” para corretores e assessores no segmento.

“Todo imóvel vendido há 10, 15, 20 anos é uma oportunidade potencial para o home equity”, explica. “[Então o corretor] precisa olhar com mais atenção para esse produto — ele não é tão burocrático quanto parece. Enquanto a aquisição de um imóvel é algo mais tradicional, o home equity pode despertar uma necessidade que o cliente nem sabia que tinha, ajudando a levantar capital de forma estratégica.”

A dinâmica do home equity também precisa ser melhor explicada aos consumidores, conforme aponta Fábio Zveibil, VP de Crédito com Garantia de Auto e Home da Creditas. De acordo com o especialista, em muitos casos, as pessoas vendem seus imóveis para levantar capital para um negócio e acabam se endividando de outras formas, quando optar pelo home equity poderia ser uma solução mais vantajosa.

“As pessoas quitam o financiamento imobiliário e acabam se endividando com o cartão de crédito, o que não faz sentido financeiramente. E isso acontece porque, em alguns casos, o cliente não compreende totalmente o produto [home equity]”, disse.

 

FOTO: Fabio Zveibil (VP do ecossistema Auto da Creditas), Thiago Spessoto (Superintendente Executivo do BRADESCO), Julio Rossi (Head da Área de Crédito Imobiliário do Banco Daycoval) e Coriolano Lacerda (Gerente de Pesquisa e Inteligência de Mercado do Grupo OLX) (Crédito Divulgação Conecta Imobi)

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