Ao refletir sobre o tema a ser discorrido neste artigo, lembrei-me de dois personagens incríveis da nossa historiografia: Nelson Rodrigues e Sérgio Porto. Ambos cronistas de olhar aguçado sobre as nuanças da alma humana, em especial suas fraquezas e contradições. O primeiro, por meio de suas crônicas e peças teatrais, explorava temas como paixão, ciúme, inveja e o desejo de poder. O segundo, também conhecido como Stanislaw Ponte Preta, satirizava as idiossincrasias da sociedade brasileira, como falta de bom senso, superficialidade e hipocrisia.
Não me lembro de ter visto nas citações de ambos qualquer referência direta sobre a estupidez humana. Porém é comum encontrar nelas temas recorrentes relacionados com a questão. Fato é que eles muito contribuíram para reflexões sobre a natureza do homem e suas contradições. Coincidentemente, recebi por WhatsApp um texto bastante interessante, denominado “A Estupidez Coletiva”. Suas conclusões em muito coincidem com fatos hoje vividos em nosso país, sobejamente explorados nas criações de Nelson Rodrigues e Sérgio Porto.
O artigo cita Dietrich Bonhoeffer, teólogo luterano alemão, resistente ao nazismo, e Carlo Cipolla, historiador e economista italiano. Um e outro vivenciaram circunstâncias turbulentas, que os fizeram refletir sobre um fenômeno que transcende épocas e fronteiras: a estupidez coletiva. A partir de suas observações sobre o totalitarismo e as crises sociais, os pensadores buscaram saber como ideias irracionais e comportamentos destrutivos podem se disseminar, a ponto de afetar toda a sociedade, sem distinção de classe, religião ou conhecimentos.
Bonhoeffer, ao constatar a ascensão do nazismo, perguntou-se: como um povo culto e avançado tal qual o alemão podia ter aderido a ideia tão perversa? Em suas análises, concluiu que a estupidez não é questão individual, mas sim um fenômeno social contagioso, que pode afetar toda e qualquer pessoa, independentemente de sua inteligência, nível social ou educacional. Segundo ele, trata-se de espécie de vírus que infecta mentes e corações. Cipolla, por sua vez, propôs as cinco leis da estupidez, que explicam a difusão e perpetuação do fenômeno.
A primeira lei afirma que sempre se subestima o número de estultos na sociedade; a segunda destaca que o fenômeno se distribui igualmente entre todas as classes sociais e níveis de educação; a terceira ressalta que o estúpido sempre causa danos aos outros e a si mesmo, sem obter nenhum benefício; a quarta diz que o comportamento de tais pessoas é imprevisível; a última das cinco leis deixa claro que os parvos, não raro, são mais perigosos que os malvados. As sociedades dominadas pela estupidez são autoritárias, violentas e injustas.
São múltiplas as causas da estultícia. Podem ser psicológicas e sociais, como a busca por segurança e pertencimento, a desigualdade e a desinformação. Líderes carismáticos e populistas podem manipular emoções e conduzir as massas à intolerância e à violência. A história está cheia de exemplos de regimes totalitários, cujos mandatários levaram seus países inteiros à irracionalidade. A estupidez coletiva também pode levar à perseguição de minorias e ao colapso econômico. Derrotar a estupidez é promover a liberdade e a dignidade humana!