Por Flávia Pinheiros — Mediadora, Administradora de Imóveis e Especialista em Gestão Contratual com IA para o Mercado Imobiliário.
Na semana passada, atendi um cliente interessado em fazer uma doação em vida para os filhos — aquela estratégia clássica de planejamento sucessório. Mas ele se deparou com um problema relevante: o imóvel comercial que ele avalia em R$ 5 milhões consta na base de dados da Prefeitura com valor venal de R$ 11 milhões.
A conta ficou simples — e dolorosa: R$ 480 mil a mais de ITCMD do que o valor que ele entende como justo.
“Flávia, quero deixar tudo organizado em vida para meus filhos, mas não posso pagar esse absurdo de imposto. O que eu faço?”
Esse tipo de distorção é mais comum do que parece. Imóveis comerciais e de alto padrão, especialmente, costumam apresentar discrepâncias entre o valor de mercado e o valor venal usado como base para a cobrança de tributos.
O motivo? As prefeituras nem sempre atualizam suas bases com a agilidade necessária frente às oscilações do mercado. O resultado: o contribuinte pode acabar pagando imposto sobre um valor que, na prática, seu imóvel não vale.
1) Revisão administrativa junto à Prefeitura
O caminho mais direto é solicitar a revisão administrativa, apresentando laudos técnicos que justifiquem o valor real do bem.
Essa abordagem tende a ser menos custosa e menos desgastante. No entanto, os resultados nem sempre são satisfatórios. Quando há redução, geralmente ela é pequena.
2) Ação judicial
Outra possibilidade é ingressar com um mandado de segurança para questionar a base de cálculo do imposto. Essa via envolve maior complexidade jurídica — e, claro, custos mais altos.
Embora o TJSP tenha decisões favoráveis ao contribuinte, o STJ sinalizou que o Fisco pode arbitrar valores quando entender que os dados declarados não refletem o mercado.
Em outras palavras: não há garantia de êxito.
Diante do cenário, estruturamos uma estratégia em camadas, sempre com o suporte da minha equipe de contencioso jurídico, especializada em temas patrimoniais e sucessórios:
E o resultado até agora? Ainda aguardamos a conclusão do processo administrativo, mas a Prefeitura já sinalizou uma possível redução de 20% no valor venal — o que pode representar uma economia de cerca de R$ 160 mil em ITCMD.
Mais importante do que o número: o cliente pôde seguir com o planejamento sucessório com segurança e previsibilidade, sem comprometer o orçamento familiar.
Ao longo do tempo, desenvolvi alguns critérios práticos:
Quando a diferença entre o valor venal e o valor real é pequena (menos de 20%), muitas vezes o custo e o desgaste não compensam.
Quando a distorção passa de 40%, vale considerar seriamente a contestação — desde que haja preparo financeiro e emocional.
E, sobretudo: processo não combina com pressa. Quem precisa de uma solução rápida dificilmente se beneficia desse caminho.
Mesmo com laudos robustos e discrepâncias evidentes, é importante lembrar: ao questionar o valor venal, você está desafiando a administração pública — e isso exige preparo técnico e jurídico.
Não é uma batalha impossível (já ajudei clientes a economizarem valores significativos), mas exige pé no chão. O ideal nem sempre é viável. E o possível, bem estruturado, costuma funcionar melhor do que a estratégia perfeita que nunca sai do papel.
Minha principal lição foi esta: sempre vale tentar, mas nunca dependa exclusivamente da redução.
Trabalhe com cenários paralelos. Tenha plano A, B e C. E, acima de tudo, mantenha a família bem informada sobre os riscos e possibilidades.
No fim, um patrimônio bem estruturado é aquele que sobrevive às imperfeições do sistema e continua cumprindo seu papel ao longo das gerações.
Quem vê resultados, nem sempre conhece a história.
Sou Flávia Pinheiros Costa, formada em Direito há 23 anos. Pós-graduada em Direito Imobiliário, Sistêmico, Contratual, Canônico e de Família. Atualmente, curso Inteligência Artificial para Advogados e sou mestranda em Mediação de Conflitos.
Mas o que realmente me move são pessoas.
Escutar histórias.
Ajudar a construir acordos.
Trazer clareza onde antes havia conflito.
E fazer do Direito uma ponte — não um muro.
Minha trajetória é marcada pela escuta ativa, pela conexão humana e pela busca constante por soluções que respeitem a lei e as relações.
Atuo como:
E, acima de tudo, sou alguém que acredita que ética, escuta e evolução diária são inegociáveis.
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