O termo “gentrificação” tem origem na palavra inglesa gentrification que, por sua vez, vem de gentry, que significa nobreza. O conceito foi estabelecido pela socióloga britânica Ruth Glass em 1964, para descrever as mudanças em bairros pobres de Londres com a chegada da classe média abastada. A consequente sofisticação do comércio e a alta dos preços imobiliários acabam resultando na saída dos antigos moradores e microcomércios para zonas distantes do centro da cidade. No Brasil, esse fenômeno social vem sendo chamado de revitalização.
Pois bem! Em 17 de setembro de 2025, participei de uma conferência virtual realizada pela Fiabci mexicana sobre o tema “Assentamentos Humanos e Gentrificação”. A segunda parte foi a que despertou maior atenção. A palavra é quase desconhecida e pouco utilizada no meio imobiliário brasileiro. Contudo o fato é bem presente em nosso dia a dia. Trata-se de processo de reestruturação de espaços urbanos, em geral, mediante mudança do perfil demográfico da região. A curiosidade me levou a pesquisar e escrever sobre este instigante assunto.
Na verdade, inspirei-me em um excelente artigo redigido por Mariana Tramontina em outubro de 2022 (TAB/Uol). Segundo ela, de repente, uma região assume nova configuração: fachadas reformadas, uma nova cafeteria, boutiques e espaços culturais, que antes não existiam. Contudo tais novidades mexem também com o bolso das pessoas: aluguéis sobem, imóveis se valorizam. Enfim, uma mudança no perfil demográfico do local. É a gentrificação, que melhora o ambiente, concedendo privilégios a quem chega, em prejuízo de velhos moradores.
O fenômeno atinge, fundamentalmente, regiões antigas e degradadas de grandes centros urbanos no país, como Rio de Janeiro, com o Porto Maravilha; Recife, com o cais Estelita e o Bairro do Recife; São Paulo, com os bairros Vila Madalena e Pinheiros, além de outros Brasil afora. O impacto do processo é cruel. Moradores de baixa renda ou que dependem de aluguel não resistem às pressões e deixam o local. No entanto, até o momento, não há melhor alternativa para impedir a degradação de regiões bem localizadas nas grandes cidades.
Por outro lado, a oferta de moradias populares continua insuficiente para atender à crescente demanda brasileira. Nosso déficit habitacional chega a quase sete milhões de unidades, a grande maioria enquadrada como de baixa renda. Além disso, a construção de grandes conjuntos de residências, quase sempre distantes de regiões miscigenadas, segrega seus moradores, retirando-lhes os benefícios da convivência com outras classes sociais. Isso sem falar nas dificuldades de transporte, infraestrutura básica, serviços públicos e comércio em geral.
O grande desafio é que os poderes públicos formulem políticas fortes, que atenuem a gentrificação excludente. Isso inclui ações inimagináveis em países democráticos, como o controle de aluguéis. É preciso criar condições que permitam a permanência dos antigos moradores no local de origem. Ou então, que concedam estímulos fiscais para construção de moradias populares em áreas valorizadas, cujo zoneamento preserve a diversidade social, entre outras. A gentrificação excludente, sem políticas inclusivas, tornar-se-á processo irreversível.