Quando Satoshi Nakamoto, o suposto criador da criptomoeda Bitcoin (BTC) lançou, em 2008, o guia BTC, ele deixou claro tratar-se de um “sistema de dinheiro eletrônico peer-to-peer” (ponto a ponto). Ou seja, a Bitcoin pode ser transferida sem qualquer interferência de instituições financeiras ou mesmo de governos. Na prática, pessoas físicas ou jurídicas, ainda que sediadas em diferentes países, podem transacionar e transferir a titularidade da moeda virtual, de uma para a outra, sem precisar de banco ou de empresa de remessas internacionais.
A Bitcoin é totalmente digital e descentralizada. Não é controlada por ninguém em particular: nenhum governo, empresa ou pessoa física. Não precisa ser impressa, e nenhum Banco Central tem o poder de controlar o seu valor, que depende basicamente da lei natural da oferta e demanda. Portanto o princípio da BTC está na descentralização do seu controle, que está nas mãos de todas as pessoas que participam do “novo sistema eletrônico de dinheiro”, segundo Sakamoto. O documentário Banking on Bitcoin a classificou como “moeda honesta”.
Atualmente, existem cerca de dez mil criptomoedas diferentes no mundo. As mais conhecidas são: Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH), Tether (USDT), Binance Coin (BNB), USD Coin (USDC), XRP (XRP), Terra (LUNA), Cardano (ADA) e Solana (SOL). As duas primeiras agregam cerca de 60% do valor de mercado de todas as criptos, algo em torno de 1,8 trilhão de dólares. Moedas virtuais são à prova de roubo e de transferência forçada. Só podem ser transacionadas por meio de uma rede de supercomputadores, capazes de suportar a inviolável tecnologia blockchain.
Até aqui, as moedas virtuais são privadas e não se destinam a operações comuns de compra e venda no dia a dia. Entretanto sua segurança operacional e seu exponencial crescimento têm causado preocupações aos bancos comerciais, e também a governos mundo afora. Alguns têm pensado, inclusive, em lançar criptomoedas oficiais. A China testa a novidade desde 2020. Também estão na lista Estados Unidos, Índia, Rússia, Reino Unido e Venezuela. Esta, apesar da hiperinflação, foi a primeira nação a criar a moeda digital, o Petro, há mais de quatro anos.
Todavia, diferentemente dos criptoativos privados (Bitcoin, Ethereum etc.), que têm cotações oscilantes, as moedas virtuais estatais são chamadas stablecoins, porque têm valor estável. Nessa esteira, em 20 de outubro, o Banco Central do Brasil emitiu experimentalmente as primeiras unidades do Real Digital, em sintonia com suas congêneres CBDC (Central Banks Digital Currencies), moedas digitais dos bancos centrais. A medida assemelha-se mais a uma simplificação de meios de pagamento do que propriamente uma nova modalidade de moeda.
Hoje em dia, devido ao avanço tecnológico, o dinheiro de papel vem sendo cada vez menos utilizado, substituído pelo débito automático, cartões de crédito, de débito, PIX etc., sempre por meio digital, mas, necessariamente, vinculados a uma conta corrente. O real digital dispensará essa vinculação. Ficará em wallets (carteiras) interoperáveis, no próprio Banco Central, sem passar pelos bancos. Qualquer cidadão que disponha de internet poderá fazer e receber pagamento, ainda que não seja cliente de um banco. A revolução promete ser maior que a do PIX!