É comum que nós, seres humanos, adoeçamos sem causa clara e objetiva. No entanto estudos psicossomáticos afirmam que nosso corpo pode expressar, com sintomas físicos, aquilo que a nossa mente silencia. Emoções reprimidas, traumas não resolvidos e estresse crônico se manifestam de formas diversas em nosso organismo. A ansiedade, por exemplo, pode provocar gastrite, insônia ou crises de pânico. O corpo reage quando não conseguimos expressar o que sentimos. A medicina atesta a relação entre mente e corpo na origem das doenças.
Essa também é a percepção de especialistas como o médico canadense Gabor Maté, que estuda a correlação entre repressão emocional e doenças autoimunes. Segundo ele, as pessoas que reprimem suas emoções em troca da harmonia social, ou seja, para não desagradar a terceiros, adoecem mais. Isso porque a emoção ocultada não desaparece, ao contrário, ela encontra no corpo um meio de expressão. Dor de cabeça, tensão muscular e falta de ar são sinais silenciosas da psique. Os problemas corporais são avisos de que algo não está bem.
A neurociência também contribui para essa compreensão. O estresse emocional ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e gera descargas hormonais que, no longo prazo, afetam o sistema imunológico. Isso explica por que muitas pessoas ficam mais sujeitas a doenças físicas após períodos de intenso sofrimento psicológico. O sistema nervoso autônomo, que regula os batimentos cardíacos e a digestão, sofre alterações em estados emocionais extremos. Sendo assim, sentimentos reprimidos realmente impactam negativamente na fisiologia do corpo.
Por outro lado, liberar as emoções ao invés de reprimi-las produz efeito terapêutico comprovado. A psicologia positiva demonstra que expressar os sentimentos em palavras, por meio da fala ou da escrita, ajuda a reorganizar o pensamento e a reduzir o impacto do trauma. A terapia, a arte, a música, a atividade física e até as conversas com amigos funcionam como válvulas de escape. São recursos que aliviam e reorganizam as emoções, prevenindo doenças futuras. Portanto a saúde também dá ouvidos ao acolhimento da própria subjetividade.
Há milênios, a medicina chinesa afirma que o desequilíbrio emocional provoca males corporais: a raiva afeta o fígado; a tristeza, os pulmões; o medo, os rins. Essa assertiva reforça o que agora sabemos: o corpo e a mente não são dissociados. A cura física depende, antes, do tratamento da mente. O silencio, às vezes indispensável, transforma-se em prisão emocional. Todavia “por para fora” o que sentimos não nos autoriza a reagir com violência contra quem nos induz ao desconforto emocional. É essencial expressar os sentimentos sem exaltação.
Em resumo, o corpo sofre quando deixamos de nos ouvir. A dor emocional reprimida se transforma em sintoma físico. É fundamental reconhecer que cada desconforto pode representar uma importante mensagem. Não basta apenas reagir ao que sentimos, temos de nos permitir sentir e comunicar. Ao darmos voz ao que sentimos interiormente, prevenimos o acúmulo de tensões que nos adoece. Tudo vale: orar, cantar, dançar, pintar. O corpo fala. Escutá-lo é um dos primeiros passos para curar o que a alma, desesperadamente, tenta dizer!