Aluguel por temporada vs. locação tradicional: guia completo para proprietários

Por Flávia Pinheiros — Mediadora, Administradora de Imóveis e Especialista em Gestão Contratual com IA para o Mercado Imobiliário.

 

O mercado imobiliário brasileiro vive um momento de transformação. O aluguel por temporada cresce exponencialmente — com projeção de 10% a 15% de expansão no verão de 2025, segundo o Creci-RJ — enquanto a locação tradicional mantém sua solidez como pilar de estabilidade financeira.

Nos últimos 23 anos administrando centenas de imóveis, observei uma mudança significativa no comportamento dos proprietários. O que antes era uma decisão óbvia — alugar tradicionalmente — agora exige análise criteriosa entre duas estratégias distintas, cada uma com suas vantagens e desafios específicos.

A escolha entre aluguel por temporada e locação tradicional não se resume apenas à rentabilidade. Envolve seu perfil como investidor, as características do imóvel, a localização, sua disponibilidade para gestão e seus objetivos financeiros de curto e longo prazo.

 

A Realidade dos Números no Brasil

O mercado global de short-term rentals foi avaliado em US$ 109,76 bilhões em 2022, com previsão de crescimento anual de 11,2% até 2030.

No Brasil, o movimento acompanha: São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina lideram o ranking, com mais de R$ 7,5 bilhões movimentados em reservas. Só São Paulo conta com 201.991 imóveis ativos no Airbnb.

Mas lembre-se: dados macro não substituem análise individual.

 

Locação Tradicional: Pilar de Estabilidade

Regida pela Lei do Inquilinato (Lei 8.245/91), a locação tradicional estabelece contratos — normalmente de 30 meses — com maior estabilidade para o locador.

Vantagens principais:

  • Previsibilidade de renda: ideal para quem depende da receita mensal.
  • Baixo esforço operacional: sem necessidade de reservas, limpezas ou comunicação intensa.
  • Custos menores: inquilino arca com condomínio, IPTU e contas básicas.
  • Relação de longo prazo: menor rotatividade e maior conservação do imóvel.

Desvantagens:

  • Limite de rendimento: valores seguem o teto do mercado local.
  • Pouca flexibilidade de uso: imóvel indisponível durante o contrato.
  • Risco concentrado: inadimplência afeta 100% da sua renda.

 

Alguel por Temporada: Alta Rentabilidade com Alta Gestão

Definido pelo Art. 48 da Lei 8.245/91, o aluguel por temporada atende a estadias de até 90 dias com fins transitórios (lazer, estudo, saúde, etc.).

Vantagens principais:

  • Potencial de renda 30% a 80% maior em localizações estratégicas.
  • Flexibilidade de uso e preços: você bloqueia datas e ajusta tarifas conforme demanda.
  • Menor dependência de um só locatário.
  • Valorização acelerada de imóveis otimizados para turismo.

Desvantagens:

  • Mais trabalho: comunicação, limpeza, manutenção e operação constante.
  • Despesas recorrentes: condomínio, contas, lavanderia, internet, etc.
  • Imprevisibilidade de receita: sazonalidade exige reserva financeira.
  • Maior desgaste físico do imóvel.

 

Tributação: A Diferença Está nos Detalhes

Ambas as modalidades exigem declaração no Carnê-Leão para rendimentos acima de R$ 2.259,20 (valor sujeito a atualização anual pela Receita Federal).

Locação Tradicional:

  • PF: recolhimento via Carnê-Leão.
  • PJ: imposto retido na fonte.
  • Deduções: IPTU, condomínio (se pagos pelo locador), taxa de administração.

Aluguel Tradicional:

  • Mesma base do IR, porém com mais deduções: internet, luz, água, TV, limpeza, taxas da plataforma.
  • ISS pode ser cobrado por municípios turísticos (ex: Caldas Novas-GO, Ubatuba-SP).
  • Importante: Receita Federal já acessa dados do Airbnb.

 

Qual Tipo de Proprietário é Você?

1) Investidor Passivo: Prefere previsibilidade à rentabilidade máxima. Indicação: Locação tradicional.

2) Empreendedor Ativo: Quer maximizar retorno, aceita trabalhar mais. Indicação: Aluguel por temporada.

3) Usuário Ocasional: Deseja usar o imóvel em certas épocas. Indicação: Temporada.

4) Dependente da Renda: Renda é essencial para compromissos fixos. Indicação: Tradicional.

5) Experimentador: Busca aprender e testar o mercado. Indicação: Pode iniciar com temporada.

 

Fatores-Chave para Decidir

Localização:

  • Corporativo urbano – ambos funcionam.
  • Turismo consolidado – temporada é vantagem.
  • Bairros familiares – tradicional é mais estável.

Tipo de imóvel:

  • 1-2 quartos – temporada atrativa.
  • Casas grandes – tradicional mais indicado.
  • Vista ou lazer – temporada valoriza mais.
  • Imóvel padrão – tradicional mais seguro.

Perfil financeiro:

  • Renda fixa? – locação tradicional.
  • Tolerância à flutuação? – temporada.
  • Quer retorno máximo? – temporada com gestão.
  • Busca simplicidade? – tradicional.

 

Cálculo Real: O Que Sobra no Fim do Mês?

Imóvel A (tradicional):

  • Receita: R$ 4.000/mês
  • Custos: R$ 200
  • Lucro: R$ 3.800

Imóvel B (temporada):

  • Receita: R$ 6.000/mês
  • Custos: R$ 1.500
  • Lucro: R$ 4.500

Diferença líquida real: R$ 700

 

Condomínio Pode Proibir Temporada?

Sim. O STJ (REsp 1.819.075/SP) validou a proibição se estiver expressa na convenção.

Verifique:

  • Convenção permite temporada?
  • Há portaria 24h?
  • Vizinhos são receptivos?
  • Imóvel tem entrada autônoma?

 

Gestão: Autônoma ou Profissional?

Gestão própria:

  • Controle total
  • Trabalho elevado

Terceirização:

  • Equilíbrio
  • Taxa de 8% a 15%

Terceirização total:

  • Máxima comodidade
  • Taxa de 15% a 25% (ex: Anfitrião Prime)

 

Modelo Híbrido: A Terceira Via

Alta temporada (dezembro a março / junho-julho): aluguel por temporada Baixa temporada: locação tradicional de 6 a 8 meses

Estratégia para maximizar retorno com segurança.

Quando Mudar de Modelo?

Migrar para temporada:

  • Inquilino problemático
  • Valorização turística da região
  • Desejo de uso próprio
  • Renda tradicional insatisfatória

Migrar para tradicional:

  • Ocupação abaixo de 50%
  • Exaustão com gestão
  • Lucro comprometido
  • Busca por estabilidade

 

Framework de Decisão: Radar Prático

Dê uma nota de 1 a 5 para cada item:

1) Tempo disponível para gestão

2) Tolerância à instabilidade financeira

3) Localização atrativa para turismo

4) Diferencial do imóvel (vista, lazer)

5) Necessidade de renda mensal estável

Resultado:

  • 15–25 pontos: locação tradicional
  • 10–20 pontos: avalie ambos
  • 5–15 pontos: considere temporada

 

Reflexão Final

A decisão entre aluguel por temporada e locação tradicional não é sobre qual é melhor — é sobre qual é melhor para você.

Com clareza sobre seus objetivos, seu tempo e o perfil do imóvel, você evita frustrações e maximiza resultados.

“O importante é iniciar com clareza — e a disposição de ajustar o curso conforme você e o mercado evoluem.”

 

CONHEÇA MAIS SOBRE A AUTORA DESTE POST:

Quem vê resultados, nem sempre conhece a história. ✨

Sou Flávia Pinheiros Costa, formada em Direito há 23 anos. Pós-graduada em Direito Imobiliário, Sistêmico, Contratual, Canônico e de Família. Atualmente, curso Inteligência Artificial para Advogados e sou mestranda em Mediação de Conflitos.

Mas o que realmente me move são pessoas.
Escutar histórias.
Ajudar a construir acordos.
Trazer clareza onde antes havia conflito.
E fazer do Direito uma ponte — não um muro.

Minha trajetória é marcada pela escuta ativa, pela conexão humana e pela busca constante por soluções que respeitem a lei e as relações.

Atuo como:

  • Mediadora certificada pelo ICFML.
  • Perita e avaliadora de imóveis.
  • Mentora no mercado imobiliário, conduzindo famílias e profissionais.
  • Palestrante em eventos nacionais e internacionais.
  • Escritora e produtora de conteúdo jurídico.
  • Sócia de duas administradoras de imóveis.
  • Membro ativo das comissões da OAB nas áreas de Direito Sistêmico, Imobiliário e Justiça Restaurativa.

E, acima de tudo, sou alguém que acredita que ética, escuta e evolução diária são inegociáveis.

Me acompanhe nas redes sociais:

 

 

Referências:
  • BRASILTURIS (2024) — Panorama do aluguel por temporada no Brasil
  • STJ (2024) — REsp 1.819.075/SP
  • INFOMONEY (2025) — IR sobre aluguel por temporada
  • STAYS, QUINTOANDAR, REVISTA SÍNDICO, ANFITRIÃO PRIME (2023–2025)

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