Em artigo de outubro de 2023, informei que 11 países já tinham sua própria moeda digital, as chamadas CBDC – Central Bank Digital Currency ou, em português, Moeda Digital emitida pelo Banco Central. Outros 21 países estavam na fase de projetos-piloto de moeda virtual. No total, 130 países, que somam 98% do PIB mundial, trabalhavam no lançamento de moedas virtuais. Como vanguardista desse processo aparecia a China, que desde 2020 já testava o Yuan Digital. No Brasil, o Banco Central planejava lançar o Drex até o final de 2024.
Porém dia 3 deste novembro, em surpreendente recuo estratégico, o Bacen anunciou o encerramento do Drex – versão digital no nosso real – após quatro anos de testes. A decisão sinaliza relevante mudança na estratégia de digitalização financeira do país. Baseado em blockchain, o Drex enfrentou desafios técnicos e regulatórios, especialmente em relação à privacidade e segurança das transações. Ademais, alimentava na sociedade a desconfiança de que a moeda digital estava sendo criada como nova forma de vigilância financeira permanente.
Por isso o BC optou por descontinuar sua plataforma e iniciar uma nova abordagem, mais alinhada com o setor privado. A ideia agora é refazer a arquitetura digital, priorizando soluções mais práticas e seguras. Contudo o Drex produziu alguns trunfos. O projeto permitiu ao BC entender melhor o potencial das moedas digitais, absorvendo importantes conhecimentos sobre tokenização, interoperabilidade e governança digital. Isso facilitará a construção de nova infraestrutura, iniciando pelos casos em uso, como Pix, Open Finance e investimentos.
A decisão acompanha a tendência global de prudência em relação às moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDC). Segundo a Nexa Finance, apenas cinco nações avançaram para a fase de desenvolvimento das moedas digitais entre 137 que investigam o tema. Recuando, o Brasil poderá melhor avaliar os riscos da vigilância, o custo de implementação e o impacto sobre o sistema financeiro tradicional. O Banco Central sinaliza que um novo projeto começará do zero, com foco em reaproximação com o setor privado e menor regulação.
As opiniões se dividem no mercado financeiro. Alguns dizem que o Drex propiciou novos modelos de negócios; outros, que impôs limitação à inovação. As empresas que participaram dos testes agora redirecionam suas ações para a inteligência artificial ou, como é o caso do Sistema Cofeci-Creci, para a tokenização e digitalização de processos. O fim do Drex é um recuo estratégico! O BC reafirma o compromisso com a digitalização, porém com mais pragmatismo. A nova era focará em um modelo híbrido, com mais segurança e eficiência.
O Banco Central reitera que manterá o foco da nova etapa evolutiva na conexão com o setor privado. A inversão de etapas, priorizando os casos em uso antes da era tecnológica, buscará maior aderência prática e menor resistência à regulação. Instrumentos já consolidados, como o Pix, ganharão protagonismo como alternativas para liquidação digital, sem necessidade de blockchain. O objetivo é construir uma solução conectada à economia real, preservando o protagonismo do Banco Central como autoridade monetária na transformação digital.