Estamos entrando no segundo semestre de 2025 e Julho começa com grandes desafios e importantes pontos de atenção para o mercado imobiliário. Após um primeiro semestre marcado por incertezas e mudanças relevantes na política econômica, os próximos meses exigem cautela, estratégia e planejamento por parte de incorporadoras, investidores e demais agentes do setor.
Neste artigo, reunimos os principais fatores que devem influenciar o desempenho do mercado nesta fase do ano — com destaque para o atual cenário da Selic, inflação, taxação das LCIs e os desdobramentos da reforma tributária.
A decisão do Comitê de Política Monetária (COPOM) de elevar a taxa Selic para 15% ao ano trouxe impacto imediato no mercado de crédito. O movimento, que visa conter pressões inflacionárias e manter a credibilidade da política monetária, encarece os financiamentos imobiliários e torna o acesso ao crédito mais restrito.
Com isso, a tendência é de desaceleração nas vendas de imóveis financiados, especialmente entre as classes médias, que são mais sensíveis ao custo do crédito.
Incorporadoras devem revisar o planejamento de lançamentos, priorizando projetos com maior liquidez, menor dependência de financiamento direto ao consumidor e alternativas como parcerias com investidores institucionais, build-to-suit, locação residencial e fundos imobiliários.
Apesar da alta da Selic, a inflação está relativamente controlada, girando em torno de 4,3% ao ano — dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. Esse controle é importante, pois garante previsibilidade aos contratos e protege margens operacionais do setor.
Contudo, o ambiente econômico segue volátil, com riscos externos relevantes (especialmente ligados à economia norte-americana e ao mercado de commodities). O momento exige atenção à gestão de insumos e à correção monetária dos contratos, especialmente em relação ao INCC e ao IPCA.
A possível extinção da isenção de IR para as LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) segue em debate e deve ganhar força neste segundo semestre. A medida, se aprovada, pode reduzir o volume de recursos captados via crédito imobiliário, afetando principalmente instituições que dependem desse instrumento para fomentar operações no setor.
Por outro lado, esse cenário pode abrir espaço para alternativas de financiamento mais inovadoras e ambientalmente alinhadas, como os fundos imobiliários de natureza social, que se tornaram mais robustos com a recente Lei 14.947/2024.
A transição para o novo modelo tributário, com a criação do IBS e da CBS, já começa a gerar reflexos nos negócios imobiliários. Ainda que os efeitos plenos sejam sentidos apenas nos próximos anos, 2025 já tem exigido:
O setor precisa estar atento também à regulamentação do imposto seletivo, que ainda pode afetar insumos e práticas construtivas — um ponto-chave para quem atua na cadeia da construção civil.
Em meio aos desafios econômicos, um ponto se mantém em alta: o crescimento da demanda por empreendimentos sustentáveis, inteligentes e socialmente responsáveis. O consumidor de 2025 é mais exigente, digitalizado e consciente, e os investidores seguem atentos à performance ESG dos ativos.
Incorporadoras que souberem transformar esse cenário em oportunidade — com soluções urbanas resilientes, economia de recursos, responsabilidade social e valorização do território — conseguirão não apenas atravessar esse ciclo, mas também ganhar protagonismo no mercado.
O segundo semestre de 2025 impõe desafios claros ao mercado imobiliário, especialmente diante da elevação da Selic. Mas também revela um campo fértil para inovação, sustentabilidade e modelos de negócio mais sólidos e integrados.
Quem se antecipa, revisa suas estruturas jurídicas, avalia seus riscos e aproveita os instrumentos corretos, tem tudo para não apenas resistir, mas se destacar.
Advogada, sócia fundadora do Escritório Alves Penello Advocacia e Consultoria, especialista em Direito Imobiliário com mais de 10 anos de atuação.
Mestranda em Direito das Relações Econômicas e Sociais pela Instituição Milton Campos, Vice-presidente da Comissão de Direito Imobiliário OAB/MG, subseção do Barro Preto, Co-líder da Regional Minas Gerais do Instituto Mulheres do Imobiliário e Secretária AMADI Mulher.