SPFW: Fashion for Forests: quando moda e construção civil se unem pela sustentabilidade

Ser embaixadora do movimento Fashion for Forests na edição N60 do São Paulo Fashion Week foi muito mais do que representar um nome ou uma coleção , foi participar de uma verdadeira obra. Uma obra que ultrapassa a estética, que toca o social, o ambiental e o simbólico. Uma obra que mostra que construir o futuro não é papel exclusivo da arquitetura ou da engenharia, mas também da moda, da arte e da cultura.

Vivemos um momento em que sustentabilidade deixou de ser um setor e passou a ser um idioma universal. Tanto na moda quanto na construção civil, estamos lidando com cadeias produtivas complexas, consumo de recursos naturais, impactos socioambientais e, principalmente, com a responsabilidade de transformar realidades. E a beleza dessa transformação está em perceber que, mesmo em áreas diferentes, estamos lidando com os mesmos pilares: repensar o que usamos, como produzimos e o que deixamos como legado.

SPFW N60, que celebrou os 30 anos do evento, trouxe 38 desfiles que apontaram para o futuro da moda brasileira. Mas um deles, em especial, marcou esse novo tempo com força simbólica: o estilista Amir Slama à passarela, lançando a coleção que dá origem ao movimento Fashion for Forests, criado em parceria com a ativista indígena Txai Suruí e a empreendedora Catarina Bellino. Mais que uma coleção, esse desfile foi um manifesto. A proposta é direta e poderosa: para cada peça vendida , a chamada “tree-shirt” , uma árvore é plantada na Terra Indígena Paiter Suruí, em Rondônia. A moda, historicamente associada ao consumo rápido e ao desperdício, assume aqui um papel regenerativo. Veste-se uma ideia, planta-se um futuro.

O que mais me tocou, como embaixadora, foi perceber como esse movimento se alinha à lógica que também defendemos na construção civil sustentável. Assim como buscamos edificações que causem menos impacto, utilizem materiais mais inteligentes, reduzam desperdícios e regenerem o território onde se inserem, a moda agora começa a seguir o mesmo caminho. Tecidos orgânicos, produção local, rastreabilidade, upcycling, blockchain e créditos de carbono deixam de ser tendências para se tornar fundações , literalmente.

A obra, nesse contexto, não é apenas feita de concreto. Ela é feita de relações. É construída com materiais éticos, com histórias verdadeiras, com ações que devolvem algo ao mundo. Moda e construção, quando conscientes, deixam de ser produtos e passam a ser processos vivos — que impactam o presente e desenham o futuro.

No desfile de Amir Slama, a floresta estava presente em cada detalhe. Das cores às formas, tudo evocava o território amazônico e a sabedoria dos povos originários. A presença de Txai Suruí no projeto foi fundamental para garantir que não fosse apenas uma inspiração estética, mas uma colaboração real com impacto mensurável e de Catarina Bellino por toda estruturação dessa ideia e conexão de mercados,. A cada peça, a promessa de uma árvore. A cada look, um novo passo para conectar a moda ao bioma.

E é nesse ponto que minha atuação como embaixadora ganha sentido: levar essa mensagem para além da passarela, para além do evento, e conectar universos que muitas vezes não dialogam , como a moda e a construção civil. Ambos constroem. Ambos transformam paisagens, físicas ou simbólicas. Ambos precisam, urgentemente, alinhar-se com a regeneração ambiental, com o respeito às culturas tradicionais, com o uso responsável de materiais e com a inovação responsável.

Ver essa ponte se formar me deu ainda mais certeza de que o futuro será intersetorial. Que soluções verdadeiras virão quando deixarmos de pensar em caixinhas , moda de um lado, arquitetura do outro , e começarmos a pensar em sistemas conectados. O que aprendemos em um setor pode e deve inspirar o outro. E o Fashion for Forests é exatamente isso: uma plataforma que une a força estética da moda com o propósito regenerador da floresta, e que se alinha com o que queremos na construção civil , obras que cuidam, que regeneram, que duram e que inspiram.

Ao participar disso, não apenas representei uma ideia , eu a vivenciei. Caminhei por passarelas que falam de território. Escutei vozes ancestrais que hoje são protagonistas de projetos inovadores. Compartilhei espaço com lideranças que estão replantando o Brasil, uma árvore e uma peça por vez.

Seja com um bloco ou com um tecido, com uma planta arquitetônica ou com uma coleção, o que importa é o mesmo: o que estamos construindo? Qual o impacto das nossas obras , não só em CO₂, mas em valores, em cultura, em comunidade?

Estar nessa construção coletiva é uma honra. E é um chamado. Que mais obras nasçam assim: conscientes, conectadas, simbólicas e, acima de tudo, regenerativas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress