Contratos inteligentes na prática: casos de sucesso na gestão patrimonial digitalizada

Por Flávia Pinheiros – Mediadora, Administradora de imóveis e Especialista em Gestão Contratual com IA para o mercado imobiliário

 

Nos dois primeiros artigos desta série, exploramos como a Inteligência Artificial está transformando os contratos de locação e como a administradora se tornou uma ponte essencial de confiança entre proprietários e inquilinos. Agora, quero compartilhar histórias reais de como essa integração entre tecnologia e expertise humana está gerando resultados impressionantes na gestão patrimonial.

Porque, afinal, o valor de qualquer inovação só se comprova na prática.

 

Do papel à prática: histórias reais de transformação

Em 2022, implementamos contratos parametrizados em uma carteira com 120 imóveis residenciais em São Paulo. Antes disso, era comum enfrentarmos desentendimentos frequentes sobre interpretações contratuais, gerando desgaste para todas as partes envolvidas.

A transformação começou com um diagnóstico detalhado dos pontos de atrito recorrentes. Redesenhamos os contratos para que se adaptassem automaticamente ao perfil de cada inquilino, suas necessidades específicas e o histórico de relacionamento.

Um caso ilustra bem o impacto dessa abordagem: o sistema nos alertou sobre um inquilino que começou a atrasar pagamentos em apenas 2-3 dias – algo que passaria despercebido na administração tradicional. Ao invés de esperar a situação se agravar, fizemos um contato preventivo e descobrimos que ele havia mudado de emprego, com nova data de pagamento do salário. Um simples ajuste no vencimento do aluguel resolveu a questão antes mesmo de se tornar um problema.

Os resultados foram surpreendentes: redução de 90% nos desentendimentos contratuais e aumento significativo na satisfação tanto de proprietários quanto de inquilinos. Mais impressionante ainda: a rotatividade de inquilinos caiu pela metade.

E aqui está um ponto fundamental que muitos ignoram: quando um imóvel é desocupado, ele não apenas gera vacância para o proprietário – ele retorna para o ciclo de comercialização e, posteriormente, para a administração. Isso significa recomeçar todo o processo, com novos custos de captação, novas análises cadastrais e o desafio de construir uma relação do zero.

Em essência, estamos lidando com pessoas, não apenas com contratos ou imóveis. Cada inquilino que permanece satisfeito representa uma história de confiança construída, um relacionamento preservado e um ciclo virtuoso para todos os envolvidos. Um bom trabalho gera conexão e identidade – valores impossíveis de mensurar apenas em planilhas financeiras.

 

Além dos números: o fator humano potencializado

Contratos inteligentes são muito mais que documentos digitalizados. São sistemas vivos que aprendem e evoluem com cada interação. Porém, sua verdadeira força não está apenas na tecnologia, mas em como ela amplifica o trabalho do gestor patrimonial.

Em nossa administradora, desenvolvemos um sistema que monitora discretamente padrões de comportamento e sinaliza potenciais questões antes que se manifestem. Mas o diferencial está no que fazemos com esses alertas: ao invés de respostas automáticas, iniciamos conversas personalizadas.

Como disse uma proprietária de cinco imóveis em nossa carteira: “Pela primeira vez, sinto que existe um cuidado proativo com meus imóveis. Antes, só sabia dos problemas quando já era tarde demais.”

 

Quando a tecnologia falha: lições aprendidas

Nem todas as implementações são bem-sucedidas. Uma empresa de gestão patrimonial investiu mais de R$1 milhão em um sistema completo para seus 800 imóveis, implementando tudo de uma vez. O resultado? Abandono total após 14 meses.

O erro não estava na tecnologia, mas na abordagem: ignoraram o tempo necessário para adaptação cultural da equipe e dos clientes. Tentaram correr antes de aprender a andar.

Em outro caso, uma administradora implementou um sistema tecnicamente avançado, mas que tratava pessoas como meros dados. O resultado foi um aumento nas rescisões contratuais. Como sempre defendo: tecnologia sem empatia é apenas automação fria.

 

Implementação na prática: um caminho gradual

A partir dessas experiências, desenvolvemos uma abordagem mais orgânica: começamos pequeno, com um grupo seleto de imóveis, e expandimos gradualmente conforme os resultados apareciam.

O primeiro passo foi simplesmente digitalizar e centralizar documentos e comunicações. Em seguida, implementamos o monitoramento básico, com alertas para datas importantes e alterações de padrão. Só depois avançamos para análises preditivas mais sofisticadas.

O mais importante: a cada etapa, dedicamos tempo para treinar nossa equipe não apenas no uso das ferramentas, mas na interpretação humana dos dados. Como costumo dizer: “A tecnologia nos diz quando agir. A experiência humana nos diz como agir.”

 

O exemplo de Lisboa: inspiração internacional

Durante minha imersão profissional em Lisboa, conheci a abordagem da Lisboa Property Rentals, que me impressionou profundamente. Lá, os contratos evoluem organicamente ao longo da relação locatícia, sendo ajustados com base em dados reais de uso e comportamento – sempre com o consenso das partes.

O mais fascinante é como eles conseguem integrar informações aparentemente desconexas – desde a nacionalidade do inquilino até seus padrões migratórios – para personalizar a experiência contratual. O resultado é uma permanência média 40% superior a contratos tradicionais.

 

Simplicidade é o segredo: por onde começar

Se você administra imóveis e quer iniciar sua jornada de implementação de contratos inteligentes, sugiro começar com uma pergunta simples: quais são os três problemas recorrentes que ocupam a maior parte do seu tempo?

Em seguida, mapeie as informações que, se monitoradas adequadamente, poderiam ajudar a antecipar esses problemas. Na maioria dos casos, você já possui esses dados – só não estão organizados de forma a gerar insights preventivos.

Comece pequeno, escolhendo 5-10% da sua carteira para um projeto piloto. Concentre-se inicialmente em digitalizar processos e centralizar informações. Os resultados iniciais vão naturalmente indicar os próximos passos.

Lembre-se sempre: por trás de cada contrato há pessoas reais, com sonhos, necessidades e histórias únicas. A tecnologia só faz sentido quando nos ajuda a construir relacionamentos melhores, não apenas processos mais eficientes. Um contrato bem administrado mantém o imóvel ocupado, o proprietário satisfeito e o inquilino realizado – um equilíbrio que beneficia todo o ecossistema imobiliário e mantém o patrimônio valorizado não apenas financeiramente, mas também em sua dimensão humana.

 

O futuro já presente

A evolução é clara: passamos do contrato como documento estático, para o contrato como relação viva mediada pela administradora, e agora para o contrato como sistema inteligente que aprende e evolui.

No próximo artigo, exploraremos como essa abordagem está transformando a mediação entre as partes, prevenindo divergências antes mesmo que elas surjam. Porque o verdadeiro valor não está em assinar contratos, mas em construir relações sólidas que se fortalecem com o tempo.

 

CONHEÇA MAIS SOBRE A AUTORA DESTE POST:

Quem vê resultados, nem sempre conhece a história. ✨

Sou Flávia Pinheiros Costa, formada em Direito há 23 anos. Pós-graduada em Direito Imobiliário, Sistêmico, Contratual, Canônico e de Família. Atualmente, curso Inteligência Artificial para Advogados e sou mestranda em Mediação de Conflitos.

Mas o que realmente me move são pessoas.
Escutar histórias.
Ajudar a construir acordos.
Trazer clareza onde antes havia conflito.
E fazer do Direito uma ponte — não um muro.

Minha trajetória é marcada pela escuta ativa, pela conexão humana e pela busca constante por soluções que respeitem a lei e as relações.

Atuo como:

  • Mediadora certificada pelo ICFML.
  • Perita e avaliadora de imóveis.
  • Mentora no mercado imobiliário, conduzindo famílias e profissionais.
  • Palestrante em eventos nacionais e internacionais.
  • Escritora e produtora de conteúdo jurídico.
  • Sócia de duas administradoras de imóveis.
  • Membro ativo das comissões da OAB nas áreas de Direito Sistêmico, Imobiliário e Justiça Restaurativa.

E, acima de tudo, sou alguém que acredita que ética, escuta e evolução diária são inegociáveis.

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Referências:

  • Panorama da Gestão de Imóveis Locados no Brasil. 2023.
  • DataZAP+. Pesquisa “Tecnologia e Relações Locatícias”. Publicada em fevereiro de 2024.
  • SECOVI-SP. Guia de Tecnologias para Gestão Imobiliária. 2023.
  • Pinheiros Costa Administradora. Relatório de Impacto da Digitalização Contratual. 2023.
  • Real Estate Journal Brazil. Contratos Inteligentes e a Nova Era da Gestão Patrimonial. Volume 18, 2023.
  • Lisbon Property Rentals. https://www.lisbonpropertyrentals.com
  • Spotahome Portugal. https://www.spotahome.com
  • Fundação João Pinheiro. Déficit Habitacional e Inadimplência no Brasil. 2023.

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