Especialistas defendem foco no sonho da moradia: “Crédito imobiliário é meio, não fim”
A partir da esquerda, Filipe Pontual (Abecip), Ely Wertheim (SECOVI), Manuel Siqueira (Bradesco) e Rafael Ursaia (Itaú), em painel no Conecta Imobi 2025 (Crédito Divulgação/Grupo OLX)
Mesmo com juros altos, o crédito imobiliário segue firme no Brasil e continua sendo a ponte entre o mercado e a realização do sonho da casa própria. Essa é a mensagem que ficou do debate “Caminhos para o crédito imobiliário”, realizado na última quinta-feira (4), no Conecta Imobi 2025, maior evento do setor imobiliário da América Latina, promovido pelo Grupo OLX em São Paulo.
Manuel Siqueira, gerente sênior do Bradesco, destacou que o mercado imobiliário brasileiro “está girando bem”, baseado sobretudo em dois indicadores: desemprego em baixa histórica e aumento da renda. “Seja qual for o cenário econômico, as pessoas vão precisar de um imóvel porque se casaram, porque se divorciaram, trocaram de emprego, tiveram filhos ou qualquer outro motivo. Isso não muda,” explicou.
Porém, todos os painelistas foram unânimes em reconhecer que, apesar do crescimento consistente, o setor enfrenta ao menos um grande desafio: o patamar elevado dos juros. Isso impacta sobretudo a classe média, pois a alta renda tem mais facilidade de se financiar e a baixa renda, na outra ponta, conta com programas habitacionais como o Minha Casa Minha Vida. Quem tem renda intermediária acaba sofrendo mais na hora de obter financiamentos.
O volume de crédito imobiliário equivale hoje a cerca de 10% do PIB, um número expressivo que poderia ser ainda maior. Os painelistas destacaram que as instituições que dão sustentação ao setor imobiliário, como bancos, construtoras, incorporadoras, corretoras e imobiliárias, formam um ecossistema maduro e profissional, pronto para realizar um salto no volume de operações quando as condições macroeconômicas forem mais favoráveis. Ely Wertheim, presidente executivo do Secovi-SP, sintetizou dizendo: “Não é uma questão de falta de recurso, é uma questão de custo desses recursos.”
Tudo isso torna o papel do corretor imobiliário ainda mais relevante. Conforme destacou Wertheim, o corretor não pode se enxergar como uma espécie de “despachante”, mas como o responsável por auxiliar o cliente ao longo da jornada da compra, inclusive na etapa do financiamento. Logo, esse profissional precisa entender também de crédito imobiliário, para ajudar o cliente a encontrar alternativas de financiamento.
“Hoje você consegue contratar um financiamento imobiliário pelo app do banco, mas vemos que isso, na prática, não funciona, porque o cliente não se sente seguro para tomar uma decisão tão importante sozinho”, explicou Wertheim. O corretor pode fazer aquilo que a tecnologia ainda não faz: injetar confiança no processo.
O debate no Conecta Imobi reforçou que o crédito imobiliário, embora muito importante para o mercado, é um meio, não um fim em si mesmo. “Ninguém acorda e pensa ‘quero fazer um financiamento imobiliário’; as pessoas pensam ‘preciso comprar uma casa’ ou ‘preciso mudar de cidade’”, ilustrou Manuel Siqueira. O que significa que o foco de atenção do mercado deve estar na dor do cliente, muito mais do que no sobe e desce das taxas de juros.
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