O mercado imobiliário de alto padrão em São Paulo atravessa um momento em que localização privilegiada e projetos arrojados já não são suficientes. O comprador deste segmento busca exclusividade, conveniência e experiências que antecipem o estilo de vida prometido pelos empreendimentos. Nesse cenário, a gastronomia tem ganhado espaço como elemento inesperado para encantar clientes e influenciar decisões de compra.
Em lançamentos recentes, incorporadoras passaram a investir em cafés, pâtisseries e restaurantes temporários dentro de estandes de vendas. A proposta é simples: oferecer ao visitante mais do que plantas e maquetes, criando situações que permitam experimentar desde já a rotina que será oferecida. Esse modelo já é visto em bairros como Jardins, Itaim e Pinheiros, onde o ato de morar se conecta diretamente à cena gastronômica da cidade.
Um exemplo desse movimento é o estande do Netcorp Tower, no Jardins, que trouxe uma cafeteria gourmet pop-up do restaurante Il Capitale, além de uma quadra de padel e apartamento decorado. O espaço foi concebido como um convite para que o potencial comprador associe o projeto ao cotidiano sofisticado da região. Fabrizio Belvilacqua, CEO da Netcorp, explica que a ideia é aproximar o visitante do estilo de vida oferecido. “É mais fácil se encantar por uma maquete quando você está tomando um café ou vivenciando um espaço de lazer. A venda de imóveis de luxo hoje passa por experiências que vão além da planta”, afirma.
A aposta nesse tipo de ativação coincide com a performance do mercado de luxo na capital. Segundo a consultoria Brain, as vendas de imóveis de luxo e superluxo cresceram 40% em 2023, somando R$ 15,3 bilhões em Valor Geral de Vendas. Foi o segmento mais dinâmico da cidade, impulsionado justamente por empreendimentos que oferecem diferenciais de lifestyle e serviços agregados.
Especialistas em marketing imobiliário avaliam que o efeito dessas experiências está diretamente ligado à decisão de compra. “Quando o cliente vivencia uma sensação positiva antes mesmo de assinar, ele associa aquela emoção ao produto. No mercado de luxo, isso pode ser decisivo”, analisa Pedro Paulo Loureiro, consultor especializado no setor.
A tendência reflete também a identidade de São Paulo, considerada a capital gastronômica da América Latina. Ao integrar cafés e marcas reconhecidas aos projetos, incorporadoras exploram a familiaridade e o prestígio da cena culinária local como fator de diferenciação.
Mais do que uma estratégia de marketing, a presença de experiências gastronômicas aponta para uma mudança na forma de vender e consumir imóveis de alto padrão. Se antes a negociação se concentrava na planta e no metro quadrado, hoje uma simples xícara de café pode se tornar o gatilho para que o comprador se imagine pertencendo a um universo exclusivo.