Começo este artigo lembrando uma rápida historieta de internet. Uma indústria de calçados pretendia fabricá-los para vender na Índia. Dois analistas de mercado, que não se conheciam nem sabiam um do outro, foram enviados para lá para melhor conhecê-lo. Dias depois, o primeiro deles envia seu relatório: Cancelem o projeto. Aqui ninguém usa sapatos! Em seguida, recebem o relatório do segundo pesquisador: Ampliem o projeto. Aqui, ainda, ninguém usa sapatos! Pois é! Alguns enxergam apenas obstáculos, mas há os que veem as oportunidades!
Dados de 2014, expostos no site Click Habitação, revelam a participação do crédito imobiliário no Produto Interno Bruto (PIB) dos países mais evoluídos. Em primeiro lugar, aparece o Reino Unido, com 75%. Na sequência, Estados Unidos, com 67,6%; Canadá, 64,5%; Portugal, 59,2%; Espanha, com 55,45; França, 43,3%; Alemanha, 42,4%. Daí o percentual despenca para 22,5% na África do Sul; 22,2% na Itália; 18,7% no Chile, até chegar ao Brasil, em 13º lugar, com participação de 9,6%. O Brasil é mesmo um fracasso. Está sempre na rabeira! Será mesmo?!
De todos os países do mundo, o Brasil foi o que maior crescimento teve, na relação crédito imobiliário x PIB, nos últimos 15 anos. Em 2007, nossa participação era de 1,8%. Apenas oito anos depois (2015), chegamos ao pico com o percentual de 9,6%. Hoje, em função da recessão ocorrida durante o governo Dilma Roussef, mais os nefastos efeitos da pandemia do coronavírus, estabilizamos em cerca de 9,5%. Entretanto pelo menos cinco dos países mais desenvolvidos têm crédito imobiliário equivalente a mais de 50% do PIB, até 75%.
O Brasil vai mal? Não! É só questão de ângulo de visão. A população cresce e se reconfigura todos os dias, provocando novas demandas. Temos um déficit habitacional crescente, de cerca de 7,2 milhões de unidades; abundância de crédito habitacional. Sem contar a demanda reprimida daqueles que esperam pacientes por um momento mais estável. Em 2021, segundo a CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção, o comércio de imóveis novos cresceu cerca de 12,8% em relação a 2020, mesmo no auge do coronavírus.
De igual forma, os lançamentos cresceram naquele ano 25,9%. No todo, apesar da retração econômica então vivida, o volume de ofertas fechou 3,8% maior que no ano de 2021. Em 2022, já quase livres da pandemia, o mercado imobiliário manteve-se nos mesmos níveis do ano anterior. Não cresceu muito, mas também não se retraiu, mesmo diante de uma inegável redução no poder de compra das famílias. As novas tendências, motivadas pelo isolamento social compulsório, continuam no radar. Mas crescer é mesmo sempre desafiador!
A sustentabilidade ecológica, as novas energias, as soluções inteligentes, as inovações tecnológicas e as exigências dos consumidores precisam ser implementadas. Soluções não faltam. As construtechs e as proptechs, com focos nas soluções e nos ativos imobiliários, estão a todo vapor. Mas otimismo é essencial. Os países evoluídos têm elevada taxa de crédito imobiliário x PIB. Mais de 50%. Talvez já estejam no limite! O Brasil, não! Com apenas 9,5%, o que temos é muita oportunidade para crescer. Só precisamos trabalhar e acreditar!