Gosto muito de ler, mas não me considero erudito. Aliás, as cerca de 1500 mensagens que, diariamente, me chegam por whatsapp, acabam por me tolher de um de meus maiores prazeres: a leitura. Com esta introdução, homenageio os articulistas do Blog “Brasil Sem Medo”, Flávio Gonçalves e Paulo Briguet, que, em delicioso e erudito artigo, comentam sobre o papel dos EUA, caracterizado pelo escritor Paul Johnson, em seu livro “Tempos Modernos” (1994), como a última Arcádia. Arcádia era uma região mítica e paradisíaca da Grécia antiga, onde não havia crimes, porque não havia inveja. Não sofria com as guerras e dissensões que destruíam as polis helênicas. Era o último bastião da beleza, da justiça e do saber.
Os articulistas elucubram que, desde o século XVII, o Deus único, pai do cristianismo, tem “morrido” sob o pisoteio da intelectualidade, das universidades e das lojas maçônicas. As duas grandes guerras mundiais, com seus tanques, metralhadoras, caças e bombas fizeram soçobrar a aristocrática Europa, de reis, imperadores e nobres, e com ela a cosmovisão cristã. Mas a massa popular cristianizada, resistente, insistia em ir a missas, procissões e templos litúrgicos, além de rezar, inclusive antes das refeições, e comemorar dias santos. Apesar de seu inexorável sucumbir, dia após dia!
No início do debacle, “hordas” de cristãos fugiram e atravessaram o oceano. Finalmente, em terras desconhecidas da América, ergueram vilas e igrejas e plantaram algodão e tabaco. Nem sempre dignamente. Usavam trabalho escravo. Enfrentando nativos e matando bisões, com muito sangue derramado, desbravaram o oeste americano. Enfim, construíram a nação mais livre e próspera de todos os tempos. Era a última Arcádia, refúgio de pelo menos alguns valores cristãos, resguardados da besta materialista que assolava o velho continente.
Os norte-americanos, ou parte deles, com sua riqueza e suas forças armadas, têm sido o grande arrimo da ordem mundial nas últimas décadas. Impediram a queda dos últimos templos greco-romanos e não permitiram loas esquerdistas em praça pública. Todavia, não puderam evitar que a derrocada cristã europeia aportasse também na América, no início do século XX. Parte da juventude americana foi contaminada. Deram ouvidos a Alinsky, Marcuse e Foucault. Aplaudiram a derrota de seu país no Vietnã e torceram pelo “comunismo soviético”. Defenderam o sexo livre, o aborto e o divórcio. Em perfeita sintonia com franceses, alemães e russos.
As duas Américas, relatadas por Paulo Francis em seu livro “Nixon x McGovern”, em que analisava os perfis dos candidatos americanos à Casa Branca em 1972, estavam configuradas. A primeira, conservadora; a segunda, de extrema esquerda, a juventude. Nixon era conservador, representava a ordem mundial, a Pax Americana, conquistada a sangue e lágrimas. McGovern representava a esquerda radical, marxista, trotskista, leninista, stalinista. Nixon derrotou McGovern fragorosamente e foi reconduzido quatro anos depois. A vingança da esquerda veio com o seu impeachment.
Entretanto, só em 2009, com Barack Obama, a segunda América assumiria o poder. Em 2020, foi defenestrada por Donald Trump. Agora, por meio de uma revolução cultural, reassume, com Biden, com apoio da mídia, das universidades e das big techs. A América conservadora, patriota e cristã tornou-se refém da esquerda. Mas há uma terceira América, a do Sul. E, segundo nossos homenageados, tudo indica que o Brasil será o novo bastião do cristianismo. E eu concluo: sê-lo-á também da liberdade democrática. A última Arcádia!