Quanto menos sei, mais sei que tudo sei!

O título irônico deste artigo é a antítese da conhecida frase atribuída ao filósofo grego Sócrates (400 a 399 a.C.) por seu discípulo Platão (427 a 347 a.C.): “Quanto mais sei, mas eu sei que nada sei”. A ironia torna-se interessante, porque se encaixa perfeitamente no resultado do estudo realizado pelos psicólogos cientistas a seguir qualificados. David Alan Dunning é psicólogo formado pela Stanford, Universidade de Michigan. Ele ainda vive, aposentado como Professor de Psicologia pela Universidade de Cornell, nos Estados Unidos.

Justin Gruger, igualmente psicólogo social americano, ainda em atividade, é formado pela Santa Clara University, Califórnia. É professor da New York University Stern School of Business. Dunning e Kruger são pesquisadores sociais e, juntos, formularam a teoria conhecida como “Efeito Dunning-Kruger”. É comum depararmos com cidadãos que, a despeito do pouco conhecimento sobre determinado tema, demonstram excessiva confiança em seus parcos aprendizados e habilidades. Aí está a caracterização do fenômeno social em questão.

Estamos na era da comunicação eletrônica, que configura um grande avanço da nossa sociedade. Entretanto esse mesmo avanço deu voz às mais incríveis e absurdas afirmações, por meio da internet. Pessoas completamente ignorantes em determinado assunto atrevem-se a aparecer nas redes sociais e, de maneira entusiasmada, defendem opinião totalmente contrária à de especialistas, que passaram anos e anos estudando e testando sobre o tema. O pior é que, não raro, são ouvidas e acreditadas, causando enormes problemas sóciocognitivos.

Se alguém, sem qualquer conhecimento sobre astronomia, afirma categoricamente (é muito comum entre os youtubers) provar que a terra é plana e não redonda, munido apenas de uma simples câmera fotográfica, sem dúvidas, esse é uma vítima do efeito Dunning-Kruger. Trata-se de viés cognitivo que revela a tendência das pessoas com baixa competência em determinada área a superestimar suas habilidades. Ou seja, quanto menos ela sabe sobre o assunto, mais confiante se sente em relação a ele. É a chamada “ilusão da competência”.

A manifestação do efeito pode produzir diversas consequências negativas, tanto para o indivíduo como para a sociedade: decisões equivocadas podem basear-se em informações erradas ou incompletas; excesso de autoconfiança pode impedir que alguém reconheça a necessidade de se desenvolver e aprender; relações interpessoais podem ser afetadas pelas diferentes percepções entre os níveis individuais de competência; na vida em sociedade, em especial na política, decisões de natureza coletiva podem produzir efeitos desastrosos.

Enfim, a ilusão da competência é um fenômeno psicológico que lembra a importância da humildade e do contínuo aprendizado; pode acontecer no ambiente social, familiar, estudantil, empresarial ou corporativo. Sim, pessoas sem noção do que realmente seja seu próprio ambiente, por mera vaidade, arrogância ou sentimentos ainda menos nobres, sentem-se no direito de achar que sabem e que podem tudo. Todavia, ao perceberem que não são acreditadas na busca de seus intentos, podem adotar atitudes altamente reprováveis!

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