Dois de dezembro é o dia nacional da astronomia. Não sem razão. Nessa data, no ano de 1825, nascia o segundo e último imperador do Brasil, D. Pedro II. Pesquisando sobre o tema, descobri um interessante programa cultural, mantido pela Vitasay, sob o merecido título de “Saber não Ocupa Espaço”. Nele encontrei curiosíssimas informações sobre D. Pedro II, que decidi compartilhar com meus colegas e quem mais se interessar. Trata-se da paixão do nosso monarca pela tecnologia, no tempo em que essa palavra nem figurava nos dicionários.
Era 7 de abril de 1831. D. Pedro I, Imperador do Brasil, premido por circunstâncias políticas, militares e familiares, exilou-se em Portugal, abdicando do trono em favor de seu filho, Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, de apenas 5 anos, protagonista deste artigo. D. Pedro II não tinha muitos amigos. Nem poderia! Começava a estudar às sete da manhã e só parava às dez da noite, quando ia dormir. Tinha apenas duas horas de intervalo para almoço e recreação.
Voraz leitor, não desprezava o conhecimento. Estudou filosofia, geografia, geologia, medicina, química, direito, religião, música, teatro e poesia. Além de português, nosso herói falava inglês, alemão, francês, espanhol, italiano e latim. Sabia ler em hebraico, grego, árabe e sânscrito, e discorria muito bem sobre a língua tupy. Antenado em novidades, soube do lançamento, na França, do daguerreótipo (precursor da fotografia). Em março de 1840, comprou a novidade e tornou-se o primeiro fotógrafo do Brasil, paixão que cultivou por toda a vida.
No trabalho, era compulsivo (workaholic). Começava às sete da manhã e só parava às duas da madrugada seguinte. Ciência e tecnologia foram os focos de sua vida. Sempre de olho em invenções internacionais, controlava pessoalmente pedidos de patentes sobre novas criações. Em 1857, inaugurou o telégrafo no Brasil. Em 1876, na Filadelphia, USA, encantou-se pelo aparelho telefônico, invenção de Graham Bell. Tornaram-se amigos. Pouco depois, instalou o primeiro telefone no Palácio Imperial de São Cristóvão, RJ. Mais tarde, criou nossa primeira companhia telefônica.
Pedro II viajava muito. Conheceu grandes figuras, como Victor Hugo, Nietzsche, Darwin e outros. Interessado pelas causas da febre amarela, procurou Louis Pasteur e ajudou na fundação do Instituto Pasteur, na França. Tinha excelente conceito na comunidade científica. Foi membro da Acad. de Ciências da Rússia, da Real Society (UK), das Reais Acads. de Ciências e Artes da Bélgica, da Académie des Sciences (França) e da Soc. Geográfica Americana. Primeiro astrônomo do Brasil, descobriu uma nova estrela em seu observatório particular.
Nos dias de hoje, D. Pedro II seria considerado nerd. Foi Imperador por 58 anos, mas deixou claro que nunca quis sê-lo. Em seus diários de viagem (Museu Imperial), registrou: “Nasci para consagrar-me às letras e às ciências”. Exilado, ao morrer, em 05/12/1891, na França, recebeu honras de chefe de Estado. Enfim, é bizarro saber que, enquanto ainda há quem defenda o terraplanismo, nosso Imperador, até 130 anos atrás, se dedicava às artes, ciências e tecnologia. Certamente, se vivesse hoje, poderia ser um grande Corretor de Imóveis!