O Brasil não só está vivendo um novo boom imobiliário, como é possível que este seja o maior já visto em toda a sua história. Essa foi a declaração feita recentemente por Ricardo Amorim, um de nossos mais conceituados analistas econômicos da atualidade. Segundo ele, há duas principais razões para isso. A mais importante delas é a grande disponibilidade de crédito, jamais vista no país, que deve promover grande transformação não só no setor imobiliário, mas também em vários outros setores da economia.
A taxa básica de juros (SELIC – Sistema Especial de Liquidação e Custódia), hoje em 2,0% ao ano, caiu abaixo da taxa média de inflação. Com isso, os bancos perderam um grande filão na composição de seus lucros: a compra de títulos públicos com taxa pós fixada. Por outro lado, a taxa de juros de longo prazo ainda permanece elevada em relação à SELIC. E os financiamentos imobiliários continuam sendo os de mais longo prazo entre todos os tipos de empréstimos disponíveis. Por isso os bancos estão emprestando, mais do que nunca, para a aquisição de imóveis.
Um forte exemplo dessa nova realidade é que, no mês de agosto de 2020, os financiamentos imobiliários, com recursos provenientes da Caderneta de Poupança, cresceram 75% (setenta e cinco por cento) em relação ao mesmo mês do ano passado. Um dos maiores crescimentos da história. Mesmo considerando todos os efeitos negativos da pandemia, como, por exemplo, a maior taxa de desemprego de todos os tempos, a oferta de financiamentos praticamente dobrou. O que acontecerá quando a taxa de desemprego cair?
Com menor taxa de desemprego, haverá menos inadimplência e menor risco para os bancos. Isso provocará aumento ainda maior na oferta de crédito imobiliário. Como consequência, haverá aumento substancial na procura por imóveis e também no número de lançamentos imobiliários. A má notícia é que haverá também elevação no preço dos imóveis. Aliás, segundo Amorim, foi o que aconteceu em todos os países onde houve redução da taxa de juros e aumento do crédito imobiliário.
O segundo fator que movimenta o mercado decorre da pandemia. O longo período de isolamento social, dentro das casas, fez com que as pessoas e o próprio mercado de trabalho questionassem prioridades e preferências habitacionais. Onde querem morar, como querem trabalhar, que tipo de imóveis vão preferir daqui para a frente? Muita gente gostou do trabalho remoto, inclusive os empregadores. A tendência, portanto, além da mudança do padrão residencial, é a remodelação, redução ou até o fechamento de escritórios, já que muitos poderão trabalhar remotamente.
Pessoas que podem trabalhar em casa não têm necessidade de morar próximas dos centros urbanos. A preferência recairá pela melhor qualidade de vida no interior, na praia ou no campo. Nos condomínios, haverá significativa valorização dos espaços comunitários, como áreas de lazer e gastronomia. Essa mudança de padrão implicará também redução do volume de tráfego e, consequentemente, redução da poluição, melhora da mobilidade e da própria qualidade dos serviços públicos. Enfim, um novo boom imobiliário tem fortes razões de ser.